CARTA ABERTA AO GOVERNADOR WILSON LIMA
Senhor Governador Wilson Lima, assistindo o vídeo onde Vossa Excelência fala dos 50 presos, como resposta do seu governo à afronta da ação pirotécnica do CV na noite desta quinta-feira 10 de fevereiro de 2022, na condição de Cidadão de uma República Democrática de Direito, me dirijo em carta aberta nas Redes Sociais à sua pessoa, haja vista que em audiência isso levaria meses para acontecer, isso se o senhor se dignasse a me receber.
Prender 50 bandidos de diversas ordens do mundo paralelo da criminalidade, não é verdadeiramente um grande feito.
O efetivo usado pelo CV para o show pirotécnico, de certo mobilizou o triplo desse número de presos.
O que a população de fato espera é a prisão dos grandes, dos mentores do crime organizado que elaboraram, financiaram, ordenaram e fizeram acontecer o maior show pirotécnico que a cidade viu.
Mais de 20 minutos de queima de fogos em toda Manaus, algo que consumiu, no mínimo, cerca de uma tonelada de fogos de artifício.
Até hoje, nem o governo do Estado, nem a prefeitura de Manaus fizeram algo igual e tão bem coordenado.
Nem mesmo com a vacinação contra a Covid-19, pois ainda hoje a cobertura vacinal de Manaus e do Amazonas é motivo de preocupação, pois não chegou a toda a população, como chegaram os estampidos da pirotecnia de ontem.
O que se viu foi uma demonstração de força e coordenação de uma única facção, nunca antes vista.
Algo assustador, intrigante e instigante.
Assustador, por mostrar que em todos os quadrantes da cidade o CV está presente e não tem medo de mostrar a cara, de afrontar as autoridades policiais, de fazer o que quer, como quer e entende que deva ser feito, e o governo não ter ou dispor um serviço de inteligência suficientemente eficaz, para conseguir saber que se orquestrava tamanha ação, e assim evitar tamanha afronta.
Assustador, pois uma das leituras que o cidadão poderá fazer de tal ação, é que quem tem o poder de fazer tamanho festival pirotécnico é capaz de tomar de assalto uma residência, um comércio, uma repartição pública e até mesmo a sede do governo do Estado do Amazonas e fazer o próprio governador de refém.
Intrigante, pois em um mesmo instante conseguiu surpreender e assustar a população, de certo despertou a curiosidade dos mais de dois milhões de habitantes de Manaus, levando a população a se perguntar qual é a real capacidade da força policial do Estado, para enfrentar as organizações do crime estabelecido.
Instigante, pois estimula a ideia de que o estado paralelo do crime, estabelecido no “princípio” do “CRIME CERTO JUSTO E CORRETO” (SIC), é algo que poderá substituir um dia o Estado de Direito constituído, mas INCAPAZ de proteger o cidadão.
Qual o efeito de tal estímulo para a população em geral e principalmente para os cidadãos em especial os jovens desempregados e sem perspectiva de emprego, renda e qualidade de vida?
A interpretação ou a dúvida de que o crime compensa!
Exagero de minha parte? Não, governador Wilson Lima!
Não estou exagerando, o senhor sabe muito bem que fechar a porta depois da casa ter sido roubada, pode sim dificultar a ação do ladrão, mas não o impedirá de uma nova e mais ousada investida.
O que vimos foi a cidade ser tomada de assalto, ainda que de forma simbólica!
Não há como negar a força do impacto!
Colocar a polícia nas ruas e prender 50 bandidos, nos parece mais pirotecnia do que o show de fogos assistido ontem em toda Manaus.
Por que essas pessoas não foram presas antes desse show? Por que foi necessário haver tamanha afronta para a Polícia Civil e Militar agirem em tão “fantástica” operação?
Os verdadeiros responsáveis pelo estado paralelo estão soltos até hoje, e seu governo, infelizmente, bem pouco fez ou pode fazer para estancar esse processo de avanço e crescimento do crime organizado.
Não bastasse o número de mortos e corpos desmembrados, espalhados em sacos de lixo, até no centro histórico de Manaus, fato recorrente em várias partes da cidade, há anos, vimos estarrecidos a ação sincronizada e bem coordenada da queima de fogos na noite de ontem.
A dura verdade, governador Wilson Lima, é que nós. cidadãos e o senhor, como a maior autoridade desse Estado, eleito democraticamente pela vontade da população, fomos pegos de surpresa e estamos assustados, afrontados, desmoralizados, acuados, sem saber o por vir.
Urge que seu governo seja mais eficaz, célere, e apresente algo mais pró-ativo que somente o anúncio de que a Polícia está nas ruas e 50 pessoas foram presas, como se isso bastasse para resolver o grave problema.
É preciso provar que o seu staff de Segurança Pública e Defesa Social tem competência para se antecipar ao assalto e não apenas fechar a porta da casa depois que ela foi tomada por criminosos.
Não há mais como atribuir aos governos anteriores ao seu, o que há tempos vem acontecendo, e em especial o que se viu ontem.
Seu governo está estabelecido há mais de três anos, tempo suficiente para pensar, programar, estabelecer e fazer acontecer a Segurança Pública, pilar de qualquer uma sociedade organizada.
Não tome minhas palavras como uma tentativa de lhe diminuir ou desmoralizar politicamente em ano eleitoral.
Estou apenas exercendo meu direito de cidadão e contribuinte, que de fato e de direito estou assustado e preocupado com a comprovada falta de ações do Estado na área de Segurança Pública, bem como a ausência de resultados positivos.
Urge que o governo encontre soluções imediatas, que sejam efetivas, dado que essa bronca não é só sua, pois nos afeta sem exceção.
Sugiro que seu governo convoque a sociedade por meio de seus representantes comunitários, para uma escuta e análise de tão grave e urgente problema, já que nossos representantes políticos na ALEAM já DEMONSTRARAM serem incapazes de apresentar soluções efetivas.
O que já está posto é que uma polícia sem investimentos suficientes, sem equipamentos modernos e de precisão, sem um efetivo bem treinado e suficientemente bem valorizado por meio de uma remuneração justa e compensatória, dificilmente se conseguirá vencer essa guerra.
Quem sabe assim, ouvindo o Povo, ouvindo a Tropa da PM-AM e Policiais Civis, encontremos uma solução para esse tipo de situação que, sem exagero, aponta para a possibilidade do caos da ascensão do estado paralelo do crime organizado.
Que Deus, os Vodúns, Espíritos de Luz, os Santos de todos os credos, o iluminem nesse momento tão difícil e ímpar, de desmoralização Estado do Amazonas.
Respeitosamente,
Alberto Jorge Silva
Coordenador Geral da ARATRAMA – Articulação Amazônica do Povo Tradicional de Matriz Africana
Conselheiro Titular do Conselho Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas