Pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referente a 2022, revela que no Brasil, mais de 11 milhões de mulheres criam sozinhas os filhos. Deixar de dar aos filhos o afeto necessário para construir laços e prover um desenvolvimento emocional adequado tem nome: abandono afetivo.
É o caso da saladeira Simone Mendes Silva que nunca soube o que é ter uma figura paterna como referência. “Minha mãe sempre criou a gente sozinha porque meu pai vivia viajando. Então, minha mãe sempre lutou para criar a gente. Nós somos quatro”, relembra.
E a história se repetiu na vida dos seis filhos, como numa corrente hereditária. Foi ela quem proveu o sustento e a criação de todos, sozinha. “O meu ex- marido, pai dos meus filhos, não tem participação nenhuma na vida dos filhos. Nunca teve”.
Abandonados pelo pai
Levantamento da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN) mostra que, em 2022, mais de 164 mil crianças foram abandonadas pelo pai ainda no útero materno. Em 2023, esse número passou dos 106 mil até julho.
A ausência da figura paterna durante o desenvolvimento das crianças e adolescentes pode ter impacto na saúde física e mental delas. Em muitas situações, causam danos irreparáveis, que podem perdurar por toda a vida.
Traumas para toda a vida
A psicóloga Flávia Lacerda explica que a ausência de pai pode ter consequências nos relacionamentos futuros, ao causar um apego inseguro.
“A falta de um pai na vida da criança pode aumentar a ocorrência de problemas como ansiedade e dificuldade de manter relações duradouras, além de vulnerabilizar laços afetivos, favorecendo maior agressividade”.
Desta forma, Flávia ressalta que a ausência da figura materna causa transtornos para toda a vida.
“Prover materialmente não significa que você está cuidando da criança. É necessário também o amor construído com o cotidiano”.
Violação aos direitos das crianças
Negligenciar a convivência com os filhos, assim como negar afeto, é uma violação dos direitos da criança e do adolescente.
Para evitar os possíveis danos, o judiciário tem tomado medidas severas para garantir que de alguma forma essas pessoas em desenvolvimento tenham seus vínculos respeitados.
Para provocar reflexões nos pais e mães que passam por conflitos relativos a ruptura da relação conjugal, o Conselho Nacional de Justiça desenvolveu Oficina de Pais e Mães.
A advogada de família Patrícia Zaponni explica que o intuito é ajudar as famílias a saber como agir. “É quando nós vamos ensinar ao pai e à mãe a ser pai e mãe”, explica. “O amor é opcional, mas o cuidado é dever”, conclui a advogada.