O hospital Francisca Mendes já foi referência no tratamento de doenças do coração. A unidade era especialista em cirurgias cardíacas, cuidando de pacientes do Amazonas e de várias partes do País que precisavam de transplante e de outros procedimentos de alto risco.
Mas o hospital que foi criado para ser o pioneiro no norte do País no cuidado com o coração está com sua capacidade de atendimento reduzida. Enquanto isso, dezenas de pacientes cardiopatas esperam na fila por uma cirurgia.
A demora no atendimento tem levado pacientes à morte devido ao descaso do governo do Amazonas, que é responsável pelo hospital Francisca Mendes.
O desrespeito aos pacientes e a subutilização do hospital foi constatada pelo deputado estadual Wilker Barreto, que esteve na unidade para uma inspeção.
O parlamentar é membro da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Amazonas e possui uma autorização judicial para fiscalizar as unidades de saúde.
Mesmo com a autorização, a direção do Francisca Mendes, comandada pelo dr. Silas Fernandes de Avelar, impediu Wilker Barreto de ter acesso a documentos oficiais, números e relatórios do hospital.
Uma das poucas informações passadas, entretanto, revela uma realidade preocupante e que está tirando a vida de muitas pessoas. O hospital de referência no Amazonas em cuidados com coração no vem operando com déficit de cirurgias cardíacas.
“O diretor e todo o corpo jurídico impediram claramente a fiscalização de um membro da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Amazonas. Não tive acesso a qualquer documento. Fui à farmácia e a farmacêutica comprovou a falta de estoque de alguns remédios, mas o diretor não deixou que a listagem fosse entregue. O que a direção do hospital queria era entregar depois, por email, o material. Aí não dá para aceitar, pois fiscalização é naquele exato momento, justamete para não dar tempo de manipulação de dados ou fatos. Eu não faço jogo combinado. Não é visita de compadre, é inspeção”, ressaltou Barreto.
O parlamentar realizou inspeções nos hospitais desde o dia 8 de dezembro deste ano, após respaldo documental da Comissão de Saúde e Previdência da Assembleia do Amazonas (Aleam), de acordo com a Lei de Acesso à Informação nº12.527/2011, que garante visitas, acesso a documentos públicos e controle da Administração.
Desta forma, o deputado passou pelo Platão Araújo e João Lúcio, respectivamente, detectando o represamento nessas unidades, incluindo óbitos, em função de estarem aguardando procedimento no Francisca Mendes.
O atesto desta apuração veio com uma fala da diretora clínica do Hospital Francisca Mendes, a cardiologista Rovanda Sena, que foi repreendida pelo diretor da unidade durante a reunião na manhã desta segunda.
Diretor do hospital disse que “não está faltando nada”
O diretor afirmava que “não está faltando nada no hospital” e impedia o deputado de filmar e obter materiais necessários para comprovação da precariedade do serviço, como a baixa de leitos, sendo apenas 10 de UTI pós-operatório e 10 de UTI coronariana.
Em reunião, o dr. Silas Fernandes de Avelar chegou a afirmar que a unidade pode fazer até 15 cirurgias por dia, quando teve a informação rebatida por Rovanda Sena, que disse que, na realidade, chegam a oito. Na emergência, a média por dia são três cirurgias.
“Aqui é uma briga diária por material, por leito, por ventilador, por monitor. Precisamos de um leito totalmente formado. Então, todos os dias têm um problema numa dessas esferas, mas aqui, em média, operamos dois adultos e uma criança. Isso é suficiente para a demanda? Não, e isso gera uma demanda reprimida”, relatou Rovanda.
Falta de prioridade com a Saúde
Para Wilker, fica clara a falta de prioridade do governo com a Saúde do Amazonas e o posicionamento em querer esconder a verdade sobre o hospital. Isso, segundo o parlamentar, justifica seu trabalho em acionar os órgãos de controle.
“Hoje eu sei que o Francisca Mendes é uma caixa preta! Está morrendo gente nas unidades, como no caso do Platão Araújo, que em 90 dias um total de seis pacientes vieram a óbito por falta de cateterismo. Eu perguntei o número de pessoas que estão aguardando procedimentos das outras unidades para o Francisca e eles não informam, não informam farmácia e nem OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais). Isso é um absurdo e precisa ser investigado”, disse Wilker.
CPI do Francisca Mendes
“Vou pedir a CPI do Francisca Mendes, pois está morrendo gente no Amazonas e o governo continua omisso. Isso justifica as minhas cautelares no Tribunal de Contas, pois a saúde precisa de socorro e o Wilson Lima comprando paradidático de empresa de Pernambuco denunciada por superfaturamento. O contraditório é isto que vimos hoje, o diretor da unidade tentando encobrir e a diretora clínica dizendo a verdade que condiz com os gargalos do Platão e João Lúcio”, acrecentou Wilker.
Diante da falta de transparência, o deputado Wilker Barreto vai acionar o Ministério Público, Comissão de Saúde da Aleam, e Mesa Diretora da Casa, diante do cerceamento por parte do diretor do Francisca Mendes. “As medidas jurídicas cabíveis contra a ilegalidade cometida pela direção serão tomadas”, disparou Barreto.
Pacientes denunciam descaso
A aposentada Maria Lúcia Ferreira era uma das pessoas que estava na recepção do Francisca Mendes. A mulher disse que está revoltada com a longa espera para ter mais qualidade de vida. Segundo ela, a batalha de um ano vem cansando.
“Estou aguardando consulta há um ano com um cirurgião, que chegou a mandar colocar um marco-passo em mim, mas até agora, nada. Meus exames foram realizados até no particular para ser mais rápido, mas até venceram, e não consigo uma consulta. O hospital diz que eu tenho que aguardar para marcar o cardiologista. Meu irmão está desde abril tentando também uma cirurgia de ponte de safena e nada também. Ele está na posição 156 da fila, para sempre, parece”, frisou.