O Amazonas tem um coeficiente de incidência de tuberculose mais alto do o coeficiente do Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, que lançou, ontem (24-mar), o número especial de março de 2022 do Boletim Epidemiológico de Tuberculose, da Secretaria de Vigilância em Saúde.
Segundo o documento, em 2021, foram notificados 68.271 casos novos de tuberculose no Brasil, o que equivale a um coeficiente de 32,0 casos de tuberculose por 100 mil habitantes, ao passo que o Amazonas apresentou um coeficiente de 71,3, ocupando o primeiro lugar de estado com o maior número de novos casos.
Este é o quinto ano seguido que o Amazonas ocupa o primeiro lugar no ranking de estado com o maior número de casos da doença no Brasil.
De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-AM), o Amazonas registrou em 2021 um aumento de 12% de incidência de casos em relação a 2020. Em 2021, foram registrados 3.209 novos casos de tuberculose.
Em 2020, o Estado tinha 2.853 casos. Os estados do Rio de Janeiro (67,4) e Roraima (54,6) ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugar no ranking de incidência da doença.
Secretaria de Saúde sem planejamento
O deputado Dermilson Chagas (Podemos) que, no ano passado, denunciou a situação de abandono da Policlínica Cardoso Fontes, a única unidade de saúde do Estado responsável pelo tratamento de pacientes com tuberculose, que, deveria, na realidade, ser um centro de referência, disse que as estatísticas comprovam que o Governo do Amazonas não tem planejamento e que não consegue estruturar a rede estadual de saúde.
“O Governo do Amazonas divulgou no Portal da Transparência que gastou mais de R$ 4,5 bilhões na Saúde. Esse valor extrapola a dotação inicial aprovada pela Assembleia Legislativa do Amazonas, que foi de R$ 2,6 bilhões. Apesar do alto volume de recursos, a estrutura da rede hospitalar do Estado não teve melhoras significativas. Pelo contrário, as filas para consultas, exames e cirurgias continuam aumentando. E um dos reflexos de que o Estado não tem planejamento é que o Amazonas figura entre os três estados que lideram o ranking de incidência de tuberculose”, comentou o deputado Dermilson Chagas.
Recursos mal investidos
O parlamentar disse que, ironicamente, essas estatísticas foram divulgadas pelo governo federal justamente no dia 24 de março, data em que se celebra o Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose. O deputado Dermilson Chagas disse que esses números são um absurdo porque se o Governo do Amazonas atuar com seriedade pode conseguir diminuir sensivelmente os coeficientes de incidência da doença porque a tuberculose tem cura e o seu tratamento pode ser feito, no mínimo, em seis meses.
“Se esses mais de R$ 4,5 bilhões tivessem sido bem empregados, as unidades de saúde do Estado que oferecem tratamento para pacientes com tuberculose estariam melhor aparelhadas, os remédios poderiam ser disponibilizados para os pacientes em tratamento, os exames seriam feitos com agilidade, tudo para contribuir para baixar essas estatísticas absurdas de contágio e mortalidade dessa doença no Amazonas”.
“Decadente, imunda e abandonada”, avaliam pacientes
A Policlínica Cardoso Fontes, localizada na rua Lobo D´Almada, Centro, zona sul de Manaus, era considerada referência para o tratamento de tuberculose multirresistente no Amazonas, porém esse status já não existe mais.
Em setembro de 2021, o deputado Dermilson Chagas fez uma fiscalização no local e, ao invés de uma unidade de referência, encontrou um local totalmente sujo, com diversos aparelhos e equipamentos danificados e sem manutenção há meses e um ambiente totalmente inapropriado para o atendimento de pacientes, inclusive porque na sala do principal exame para detecção da doença já não existe mais a câmara de proteção para que os servidores não sejam afetados.
Além disso, as instalações do prédio apresentavam fiação inadequada e utilização da mesma tomada para vários equipamentos, que são um risco para incêndios. No local, havia somente um banheiro funcionando para atender as necessidades tanto de pacientes masculinos quanto femininos.
O outro banheiro estava desativado por falta de manutenção. Os exames não estavam sendo realizados porque a maioria dos equipamentos estavam à espera de reparo e substituição de peças.
Mas, a pior parte foi o estado que se encontrava a sala destinada para a realização dos exames, a Sala de Baciloscopia, onde se faz a confecção das lâminas. Todo o ambiente estava infectado com bacilo de Koch, causador da tuberculose.
O ar-condicionado vazava água e fazia o ambiente ficar úmido, proliferando mofo. Em outras salas, também havia condicionadores de ar com vazamento de água, forçando os funcionários a utilizarem um balde para evitar que a sala fique com o piso totalmente encharcado.
Este foi o cenário que o deputado Dermilson Chagas encontrou no dia 16 de setembro do ano passado, ao realizar uma fiscalização-surpresa na Policlínica Cardoso Fontes. No local, o parlamentar foi parado por pacientes que imploravam por ajuda e se emocionaram ao relatar os vários problemas e humilhações que passam para conseguir realizar exames e consultas na unidade, que, até então, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), divulgava ser a unidade de referência para o tratamento da doença.
Equipamentos danificados
Os principais equipamentos danificados eram o autoclave, que realiza a esterilização de materiais; a Cabine de Segurança Biológica, também chamada de CBS ou Capela, que serve para proteger os funcionários durante a realização do exame; o Gene Xpert, que identifica a tuberculose e avalia a resistência; e o microscópio, usado na realização de exames.
Sobre a doença
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível e é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. A doença afeta principalmente os pulmões, mas pode se manifestar em outros órgãos e/ou sistemas. A forma extrapulmonar, que acomete outros órgãos que não o pulmão, atinge principalmente pessoas com HIV que estão com comprometimento imunológico.
A tuberculose é uma doença de transmissão aérea e se instala a partir da inalação de aerossóis oriundos das vias aéreas, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), que lançam no ar partículas em forma de aerossóis contendo bacilos. A doença não é transmitida por objetos compartilhados, como talheres, copos, entre outros, e tem cura, caso o tratamento seja seguido corretamente.
O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse na forma seca ou produtiva. Por isso, recomenda-se que todo sintomático respiratório, que é a pessoa com tosse por três semanas ou mais, seja investigado para tuberculose. Há outros sinais e sintomas que podem estar presentes, como: febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e cansaço ou fadiga.
Veja o relatório da doença no Brasil