2 de dezembro de 2025 | 08:13

Apenas 26% dos pacientes com diabetes tipo 2 no Brasil estão dentro da meta glicêmica

No Brasil, apenas 26% das pessoas com diabetes tipo 2 (DM2) atingem a meta glicêmica recomendada1-5. Este cenário evidencia uma lacuna no manejo da doença, especialmente considerado que o controle glicêmico inadequado está associado a maior risco de complicações cardiovasculares e renais4,5. Um estudo mostrou que uma demora de apenas um ano no ajuste do tratamento em pessoas cujo diabetes tipo 2 não estava sob controle pode elevar significativamente o risco de evento cardiovasculares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e qualquer evento cardiovascular4. “As doenças metabólicas e cardiorrenais estão interconectadas. O controle glicêmico adequado e o rastreio precoce de possíveis complicações cardiorrenais possibilitam intervenções oportunas e eficazes”, 6-17 explica o Dr. Wellington Santana da Silva Júnior (CRM 5188/MA), Endocrinologista e Metabologista (RQE 2739) titulado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Falta de integração pode ampliar o risco de complicações graves

No Brasil, estima-se que mais de 16 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos vivam com diabetes6. Grande parte desses pacientes pode ser diagnosticada tardiamente ou receber acompanhamento descontinuado, o que dificulta o controle e potencialmente aumenta a probabilidade de desfechos graves6. Estima-se que até 40% das pessoas com DM2 possam desenvolver doença renal do diabetes ao longo da vida12, e que o risco do desenvolvimento de doença cardiovascular seja até 60% maior em comparação às pessoas sem diabetes6.

A doença renal do diabetes é um fator de risco para doença cardiovascular, podendo ser diagnosticada com exames simples: creatinina no sangue, para estimativa da taxa de filtração glomerular, e razão albumina/creatinina na urina7. Entretanto, a incorporação plena desses exames na prática clínica ainda enfrenta desafios, indicando a necessidade de uma maior conscientização e implementação das recomendações das diretrizes e protocolos7-11. “Quanto mais precocemente iniciarmos o rastreio da doença renal do diabetes, maiores as chances de instituirmos medidas para reduzir a sua progressão, pois já dispomos de excelentes opções terapêuticas para a proteção dos rins e do coração das pessoas com diabetes”, reforça o Dr. Wellington.
Abordagem integrada pode transformar o cuidado

A comunidade médica recomenda uma abordagem integrada e centrada no paciente, que considere as alterações metabólicas e o risco cardiovascular e renal de forma simultânea. Esta visão apoia decisões e intervenções abrangentes para a saúde, visando otimizar a qualidade de vida12-15. Modelos tradicionais, focados apenas em parâmetros isolados como a glicemia, têm se mostrado insuficientes.
Estudos clínicos comprovam a proteção cardiorrenal conferida por alguns agentes antidiabéticos, como a empagliflozina. No estudo EMPA-REG OUTCOME, a molécula foi associada a uma redução de 38% no risco relativo de morte cardiovascular e de 55% no início de terapia renal substitutiva em comparação com o placebo em pessoas com DM2 e doença cardiovascular estabelecida16,17.
A empagliflozina também foi estudada em outras populações. O estudo EMPEROR-Reduced, que incluiu pessoas com insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) ≤40%, com ou sem diabetes, evidenciou que o medicamento, em comparação com o placebo, foi associado a uma redução do risco relativo de 25% para o desfecho composto de morte cardiovascular ou primeira hospitalização por IC18. Já no estudo EMPEROR-Preserved, que incluiu pessoas com IC com FEVE >40%, com ou sem diabetes, o medicamento mostrou uma redução do risco relativo de 21% para o mesmo desfecho, em comparação com o placebo19.
Por sua vez, o EMPA-KIDNEY, que incluiu pessoas com doença renal crônica, com e sem diabetes, demonstrou que o medicamento reduziu em 28% o risco relativo de progressão da doença renal ou morte cardiovascular, em comparação com o placebo20.
“O manejo da terapia antidiabética com base em aspectos além do controle glicêmico, como a presença de complicações vasculares ou de um maior risco para desenvolvê-las, vem sendo preconizado pelas diretrizes médicas como a maneira mais efetiva de promover cardio- e nefroproteção para as pessoas com diabetes. Essa abordagem baseada em evidências beneficia a população com diabetes ao protegê-las da sua maior causa de morbimortalidade: as doenças cardiorrenais., afirma o especialista.

 

Referências Bibliográficas:

(Este material foi elaborado de acordo com as práticas de comunicação corporativa e jornalística. As referências científicas usualmente não são publicadas pela imprensa, a fim de preservar a clareza e a adequação do conteúdo ao público de imprensa, servindo apenas como comprovação de que as informações foram devidamente verificadas)

  1. Viana LV, Leitão CB, Kramer CK, et al. Poor glycaemic control in Brazilian patients with type 2 diabetes attending the public healthcare system: a cross-sectional study. BMJ Open. 2013;3(9):e003336. Published 2013 Sep 18. doi:10.1136/bmjopen-2013-003336.

  2. American Diabetes Association Professional Practice Committee; 10. Cardiovascular Disease and Risk Management: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S207–S238. Link.

  3. American Diabetes Association Professional Practice Committee; 11. Chronic Kidney Disease and Risk Management: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S239–S251. Link.

  4. Paul SK, Klein K, Thorsted BL, Wolden ML, Khunti K. Delay in treatment intensification increases the risks of cardiovascular events in patients with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2015;14:100. Published 2015 Aug 7. – 2 (cont) – doi:10.1186/s12933-015-0260-x.

  5. American Diabetes Association Professional Practice Committee; 6. Glycemic Goals and Hypoglycemia: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S128–S145. https://doi.org/10.2337/dc25-S006.

  6. International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas, 11th edn. Brussels, Belgium: 2025. Disponível em: https://diabetesatlas.org. Acesso em: 27 de agosto de 2025.

  7. João Roberto Sá, Luis Henrique Canani, Érika Bevilaqua Rangel, Andrea Carla Bauer, Gustavo Monteiro Escott, Themis Zelmanovitz, Sandra Pinho Silveiro, Carolina de Castro Rocha Betônico, Márcio Weissheimer Lauria, Rodrigo Nunes Lamounier, Thyago Proença de Moraes. Avaliação e tratamento da doença renal do diabetes tipo 2. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2024). DOI: 10.29327/5412848.2024-6, ISBN: 978-65-272-0704-7.

  8. Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. KDIGO 2024 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Kidney Int. 2024;105(4S):S117-S314. doi:10.1016/j.kint.2023.10.018.

  9. Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) Diabetes Work Group. KDIGO 2022 Clinical Practice Guideline for Diabetes Management in Chronic Kidney Disease. Kidney Int. 2022;102(5S):S1-S127. doi:10.1016/j.kint.2022.06.008.

  10. James G, Garcia Sanchez JJ, Carrero JJ, et al. Low Adherence to Kidney Disease: Improving Global Outcomes 2012 CKD Clinical Practice Guidelines Despite Clear Evidence of Utility. Kidney Int Rep. 2022;7(9):2059- 2070. Published 2022 Jun 8. doi:10.1016/j.ekir.2022.05.033.

  11. Guedes, M., Dias, P.T., Réa, R.R. et al. Patterns of kidney function and risk assessment in a nationwide laboratory database: the Brazilian CHECK-CKD study. BMC Nephrol 25, 191 (2024). Link.

  12. Bertoluci MC, Silva Júnior WS, Valente F, Araujo LR, Lyra R, de Castro JJ, Raposo JF, Miranda PAC, Boguszewski CL, Hohl A, Duarte R, Salles JEN, Silva-Nunes J, Dores J, Melo M, de Sá JR, Neves JS, Moreira RO, Malachias MVB, Lamounier RN, Malerbi DA, Calliari LE, Cardoso LM, Carvalho MR, Ferreira HJ, Nortadas R, Trujilho FR, Leitão CB, Simões JAR, Dos Reis MIN, Melo P, Marcelino M, Carvalho D. 2023 UPDATE: Luso-Brazilian evidence-based guideline for the management of antidiabetic therapy in type 2 diabetes. Diabetol Metab Syndr. 2023 Jul 19;15(1):160. doi: 10.1186/s13098-023-01121-x. PMID: 37468901; PMCID: PMC10354939.

  13. American Diabetes Association Professional Practice Committee; 3. Prevention or Delay of Diabetes and Associated Comorbidities: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S50–S58. https://doi.org/10.2337/dc25- S003.

  14. American Diabetes Association Professional Practice Committee; 9. Pharmacologic Approaches to Glycemic Treatment: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S181–S206. Link.

  15. Ruy Lyra, Luciano Albuquerque, Saulo Cavalcanti, Marcos Tambascia, Wellington S. Silva Júnior e Marcello Casaccia Bertoluci Última revisão em: 12/09/2024 DOI: 10.29327/5412848.2024-7

  16. Zinman B, Wanner C, Lachin JM, et al. Empagliflozin, Cardiovascular Outcomes, and Mortality in Type 2 Diabetes. N Engl J Med. 2015;373(22):2117-2128.

  17. Wanner C, Inzucchi SE, Lachin JM, et al. Empagliflozin and Progression of Kidney Disease in Type 2 Diabetes. N Engl J Med. 2016;375(4):323-334. doi:10.1056/NEJMoa1515920.

  18. Packer M, Anker SD, Butler J, et al. Cardiovascular and Renal Outcomes with Empagliflozin in Heart Failure. N Engl J Med. 2020;383(15):1413-1424. doi:10.1056/NEJMoa2022190.

  19. Anker SD, Butler J, Filippatos G, et al. Empagliflozin in Heart Failure with a Preserved Ejection Fraction. N Engl J Med. 2021;385(16):1451-1461. doi:10.1056/NEJMoa2107038.

  20. The EMPA-KIDNEY Collaborative Group, Herrington WG, Staplin N, et al. Empagliflozin in Patients with Chronic Kidney Disease. N Engl J Med. 2023;388(2):117-127. doi:10.1056/NEJMoa2204233.

Leia também outras matérias

PREVISÃO DO TEMPO: Sudeste do país será chuvoso, nesta sexta-feira (3)

Redação Zero Hora AM

Programação do ‘Boi Manaus 2025’ começa quarta-feira (08), com feirinha do tururi

fabiocosta

Mais de 32 mil famílias estão ameaçadas de despejo no Amazonas

Redação Zero Hora AM
Carregando....