Redação ZH – Além de um relevante centro industrial, o que mais São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e Manaus têm em comum? Embora muitos possam duvidar, a cidade situada no sudeste da Região Metropolitana de São Paulo possui o Teatro Amazonas, a “Igreja da Matriz”, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, o Hotel Amazonas e até mesmo o Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões.
O cenário peculiar foi criado em 1973 e permaneceu esquecido por alguns anos até ser revitalizado em 2023. Essa iniciativa foi promovida pelo Conselho Municipal de Turismo (Comtur) de São Bernardo do Campo, com financiamento do Governo de São Paulo e suporte da Prefeitura local. Inclui também a colaboração do setor privado.
É uma réplica quase em tamanho real de Manaus, composta por um conjunto arquitetônico de edifícios históricos. Como um vasto museu a céu aberto, possui pontos famosos da “Paris dos Trópicos” que já não existem mais. Quem não recorda do antigo restaurante Chapéu de Palha, que foi demolido nos anos 80? Outra parte descreve a vida cabocla, ribeirinha e indígena, com toda a abundância da flora, fauna e mitos amazônicos.
Localizada no complexo da Cidade da Criança em São Bernardo do Campo, a réplica assemelha-se a uma irmã gêmea de Manaus, devido à originalidade das construções em uma escala geométrica significativa. Por exemplo, o Teatro Amazonas possui capacidade para 87 espectadores e um palco adequado para apresentações de médio porte. Chama a atenção a riqueza dos detalhes, incluindo as cadeiras vermelhas da plateia, a famosa cúpula de origem parisiense, as escadarias e até o camarim abaixo do palco. Nada foi esquecido.
A Catedral Metropolitana de Manaus, uma réplica imponente e original da centenária Igreja de Nossa Senhora da Conceição, se destaca sobre uma pequena elevação, cercada pela vegetação nativa, como se emergisse da floresta. Isso simboliza a colina onde foi construída na Praça XV de Novembro, no coração de Manaus.
O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, situado próximo à entrada do parque, mantém o projeto e as cores originais, bem como o portal de entrada em homenagem ao monumento do relógio da Eduardo Ribeiro. O Hotel Amazonas, um edifício de quatro andares, está sendo completamente reformado para se tornar um espaço administrativo do complexo, localizado ao lado do mercado.
A Manaus paulistana tem o poder de evocar tanto emoção quanto nostalgia nos visitantes que possuem alguma conexão com sua irmã da selva. Quem sente falta do restaurante Chapéu de Palha, que funcionou no bairro Adrianópolis, na esquina das ruas Salvador e Paraíba, onde hoje é um posto de combustíveis, vai se emocionar com a réplica, que permanece majestosa e imponente como a construção original, que rendeu a Severiano Mário Porto um prêmio nacional de arquitetura, mas foi demolida no final dos anos 80.
A parte histórica do complexo é composta por monumentos como o coreto da Praça Heliodoro Balbi e o piso de paralelepípedos.
Explorar a mini Manaus do ABC paulista não se limita à arquitetura urbana. O idealizador do projeto também pensou em retratar, nos mínimos detalhes, a vida do caboclo ribeirinho no rio Amazonas, a riqueza da floresta, lendas e o folclore.
Nessa parte do cenário, que está sendo revitalizada junto com todo o complexo, o visitante percorrerá, em um barco com movimento mecânico, um canal artificial, que representa o rio Amazonas, saindo da réplica do porto de Manaus, passando pelo Encontro das Águas e mergulhando no interior da floresta para o encontro com os botos rosa e tucuxi, sucuris, onça pintada, jacaré, entre outros animais silvestres.
O encantamento completo acontece no encontro com as lendas amazônicas do Curupira, Iara e Boitatá.
As palafitas ribeirinhas e as típicas moradas do seringueiro e seringalista também estão retratadas, assim como a cultura indígena. Além da trilha de barco, essa parte do cenário poderá ser acompanhada por trilha de arvorismo.
Primeiro Parque Temático do Brasil
A réplica de Manaus integra o complexo da Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo. A construção do parque se deu a partir da cidade cenográfica da primeira telenovela brasileira, Redenção, em 1965. Ao final da novela, o cenário foi doado para a prefeitura transformando-se no primeiro parque temático do Brasil que hoje recebe, em média, 140 mil pessoas por ano.
Em 1973, o funcionário da Prefeitura de São Bernardo do Campo, Fídia Zamboni, um dos artífices no projeto e idealização da Cidade da Criança, que conhecia a capital Amazonense e tinha um grande apreço pela cidade, teve a ideia de criar, integrada ao complexo da Cidade da Criança, uma réplica de Manaus. O espaço hoje tem o nome do seu idealizador.
São Bernardo do Campo destaca-se pelo turismo industrial. Além de polo de tecnologia é o maior distribuidor de automóveis do Brasil, concentrando marcas como Volkswagen, Scania, Mercedes, entre outros.
Além de município de interesse turístico para o Estado de São Paulo e ter o Conselho Municipal de Turismo mais ativo do Brasil, a cidade também é reconhecida por ser polo cenográfico, abrigando o famoso Pavilhão Vera Cruz, onde eram gravados os filmes de Mazzaropi, atual estúdio de gravação do Master Chefe Brasil.
Revitalizar para conectar
A “Área Amazônica da Cidade não está aberta para visitação no momento. O espaço está sendo revitalizado para, em dois anos, abrir ao público.
No local vai funcionar, ainda, o Centro Turístico Fídia Zamboni, em homenagem ao seu criador, abrigando todo o complexo do setor que faz de São Bernardo principal polo do Turismo Industrial no Brasil. Funcionarão no local a sede do Comtur, a Fundação de Turismo, com um centro de capacitação.
A intenção dos idealizadores da revitalização é oferecer parte do espaço administrativo para o Governo do Amazonas instalar um escritório local e fazer eventos, exposições e shows regionais, como apresentações de do Boi Bumbá no palco do Teatro Amazonas.
“Queremos conectar o projeto com Manaus e, isso inclui fazer parceria com Governo do Amazonas, que pode ser através do órgão de turismo estadual ou de outra secretaria”, afirma o presidente do Comtur, Humberto Bueno.
Gerente da rede Accor em São Bernardo do Campo, Bueno tem uma estreita relação com Manaus, onde morou de 2011 a 2014, enquanto acompanhava a implantação do Hotel Ibis e outros empreendimentos da rede. Essa relação, conforme explica, vai além da lembrança do calor humano, do cupuaçu e dos peixes de rio que tanto tem saudade. Em Manaus, nasceu Julia, a filha mais nova de Bueno, hoje com nove anos.
“Quando conheci esse espaço nem acreditei no que estava na minha frente, porque morei em Manaus e nunca tinha ouvido falar desse lugar em São Bernardo, até assumir a presidência do Comtur. Foi uma emoção tão grande e, agora, em retribuição, quero dar esse presente para a cidade que acolheu a mim e a minha família e pela qual guardo um enorme carinho”, conta o executivo.
Assim como Fídia Zamboni, idealizador do projeto original, e do próprio Humberto Bueno, outros envolvidos na revitalização do espaço têm alguma conexão com a capital amazonense. É o caso do diretor do Departamento de Turismo da Prefeitura de São Bernardo do Campo, Fernando Bonísio.
Na década de 90, quando foi comissário de bordo, Bonísio fazia a rota São Paulo-Manaus-Belém e costumava pernoitar na cidade. “A gente tem muito orgulho dessa área, que, uma vez revitalizada, e com uma boa parceria com o Amazonas, tenho certeza que teremos um centro de referência para mostrar todas as belezas da região, aqui em São Bernardo”, diz.
O complexo foi dividido em duas partes. Logo na entrada do parque, vai funcionar a parte administrativa, ocupando o espaço do mercado Adolpho Lisboa e do antigo Hotel Amazonas, construído em Manaus logo após o período áureo da borracha e que funcionou até o início da década de 90 na avenida Floriano Peixoto, ao lado da praça Tenreiro Aranha.
“Já concluímos a reforma do mercado e estamos demolindo o hotel para reconstruir conservando todas as características originais, mas com acessibilidade, incluindo elevador para a réplica de cinco andares. Queremos oferecer, também, um andar do escritório para ser uma espécie do quintal da casa de Manaus”, afirma Bonísio.
O plano, esclarece o diretor, é usar mil metros quadrados do espaço para área administrativa. Os demais 7 mil metros quadrados são área de visitação e lazer, atualmente sob administração do Grupo Expoaqua, que tem a concessão do Parque Cidade da Criança por 25 anos.
O grupo pertence ao empresário Anael Fahel, mesmo dono do Animalia Parque Cotia e do Aquário de São Paulo. O CEO do grupo, também morou no Amazonas, conforme conta a esposa dele, Fabiana Ramos, responsável pela administração da Cidade da Criança.
“Queremos resgatar essa conexão com Manaus, sob todos os aspectos, incluindo o cardápio do restaurante Chapéu de Palha, que vai funcionar normalmente. A ideia é dar vida, fazer casamentos e batizados na igreja da Matriz e usar as áreas para espaço de convenções. Será um prazer, porque todos aqui temos, de alguma forma, uma relação com Manaus e o Amazonas”, revela Fabiana.