Quando o operador de esteira Arisson Moreira Júnior, de 34 anos, cumpriu com sua obrigação profissional e barrou duas bagagens suspeitas no Aeroporto Internacional de São Paulo, ele assinou sua sentença de morte.
Dentro das malas entregues pelo aeroportuário à Polícia Federal (PF) havia 60 quilos de cocaína, que seriam remetidos para a Europa.
Lá, poderiam render até R$ 30 milhões ao Primeiro Comando da Capital (PCC), responsável pelo esquema de tráfico de drogas.
A facção chega a pagar o equivalente a um ano de salário por bagagem para funcionários que contribuem com os despachos ilegais.
O funcionário trabalhava na esteira de embarque do Terminal 2, de voos nacionais (domésticos), quando avistou duas malas com destino a Porto Alegre (RS), mas com etiquetas de um voo internacional, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Quando ele retirou as bagagens da esteira, outro funcionário identificado como Márcio Roberto Pires, de 56 anos, aproximou-se, afirmando que levaria as duas malas para a conexão internacional.
Arisson não permitiu, apontando o fato de Márcio não estar na escala de trabalho naquele dia.
De acordo com relatório do MPSP, Márcio é “membro de associação criminosa” e, na divisão de tarefas, “ficou incumbido de retirar da esteira a bagagem contendo a droga”.
Para tentar convencer a vítima a lhe entregar as bagagens, Márcio mostrou fotografias, em um celular, das malas separadas por Arisson.
As fotos, segundo investigações da PF, são enviadas por comparsas que despacham ilegalmente as bagagens no balcão de check-in, para que elas sejam identificadas na área restrita do aeroporto.
Arison continuou se negando a entregar as duas malas. Câmeras de monitoramento registraram Márcio tentando arrancar as bagagens à força das mãos da vítima, sem sucesso. A PF foi acionada em seguida por Arisson e, dentro das malas, foi encontrada a carga milionária de cocaína.
Ameaça e morte
Dois dias após a apreensão da droga, de acordo com o MPSP, Márcio teria abordado Arisson em um ponto de ônibus e lhe afirmado: “Você, eu já passei para os caras”, referindo-se ao fato de ter relatado ao PCC sobre a apreensão das malas.
Por volta das 18h50 do dia 13 de janeiro, Arisson voltava para casa, em seu carro, quando foi interceptado no bairro São João, em Guarulhos, por um Ford Ranger, ocupado por três criminosos.
O aeroportuário foi fuzilado e morreu ainda no local.
Os assassinos abandonaram o carro, com placas adulteradas, alguns quarteirões adiante. Foi constatado que o veículo, do Rio de Janeiro, fora roubado.
Única prisão
O Setor de Homicídios e de Proteção à Pessoa (SHPP) de Guarulhos investigou o caso e, em 15 dias, prendeu Márcio.
“Pelo modo que a execução ocorreu, podemos observar que foi feito por membros de uma organização criminosa, envolvida com o tráfico de drogas, e por causa de dinheiro”, explicou o delegado Wagner Terribili, titular do SHPP.