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19 de abril de 2024 | 10:05

Jornalista morre após contrair Covid-19 em festa na sede do Governo do Amazonas

Uma festa de confraternização realizada na Secretaria de Comunicação do Amazonas (Secom), que funciona no Palácio do Governo, no bairro da Compensa, causou a infecção por Covid-19 em 60 pessoas, entre jornalistas, fotógrafos, editores e servidores administrativos.

Entre os infectados estava a jornalista Izinha Toscano, que contraiu Covid e morreu por complicações da doença no dia 6 de janeiro de 2021.

A festa aconteceu dia 18 de dezembro de 2020, sob a organização da então secretária executiva de Comunicação, Cristiane Mota.

Hoje, a exato um ano da morte da jornalista, os participantes da festa lembram como foi a confraternização marcada por aglomeração, sorteio de brindes e falta de máscaras de proteção.

O portal Zero Hora AM conversou com as pessoas que estiveram na festa. Elas lembram como foi a comemoração que infectou mais de 60 funcionários do governo.

Inicialmente, o encontro seria realizado no salão de um condomínio de luxo, o Alphaville, na avenida José Augusto Loureiro, na Ponta Negra. Porém, como a imprensa estava noticiando o crescimento no número de casos da segunda onda da pandemia, a secretária executiva decidiu realizar a festa dentro da Secom.

A intenção era não chamar atenção da imprensa, por medo de publicidade negativa para o governador Wilson Lima.

As três imagens abaixo comprovam que o endereço da festa foi trocado e também comprovam que quem convocou os funcionários foi a secretária executiva Cristiane Mota.

A secretária executiva enviou mensagem com convite para a realização da festa e solicitou a presença de todos os funcionários do órgão

 

Um dos argumentos utilizados para a convocação da festa foi “o sorteio de mimos”, ou seja, televisores, computadores, perfumes, óculos, celulares, entre outros equipamentos, e até passagens aéreas, conforme comprovam as fotos nesta reportagem.

Sacolas com equipamentos tecnológicos, como computadores e celulares, foram distribuídos durante a farra de fim de ano na Secom

 

O saldo da festa de confraternização foi uma jornalista falecida após ter sido intubada; outro jornalista chegou a ser desenganado pelos médicos, mas felizmente sobreviveu.

Outra jornalista ficou em estado grave de internação, junto com o marido, que foi infectado por ela. Uma assistente de produção foi infectada, levando o vírus para casa e infectando a mãe, que faleceu após alguns dias.

Um publicitário também adoeceu e acabou contaminando o pai, que faleceu. Outros funcionários também adoeceram e infectaram parentes.

A secretária executiva enviou mensagem informando da morte da jornalista Izinha Toscano, cujo falecimento completa 1 ano hoje, 6 de janeiro.

Primeiros sintomas começam a surgir

Os sintomas começaram a surgir, em algumas pessoas, no terceiro dia após a festa. E o número foi aumentando a cada dia.

Quando cerca de 20 servidores começaram a demonstrar sintomas de Covid-19, a secretária executiva de Comunicação solicitou que uma equipe da Fundação de Vigilância em Saúde fosse, urgentemente, em um sábado, dia 26 de dezembro, às 8h, à sede do Governo, fazer testagem em todos os funcionários que estavam apresentando sintomas.

O vídeo abaixo revela um áudio da secretária executiva de Comunicação, confessando que foi ela quem decidiu fazer a festa. No mesmo áudio, Cristiane Mota confirma que realizou nova aglomeração de servidores dentro do CICC (Centro Integrado de Comando e Controle) e todos adoeceram, inclusive os funcionários que, até então, nunca tinham contraído a doença.

Segue abaixo a transcrição, na íntegra, do trecho em que a secretária admite que ela autorizou a realização da festa.

Todos são responsáveis por seus atos e ninguém obrigou ninguém a vir pra festa”, tenta se justificar a secretária, no áudio. Em seguida, ela faz um questionamento retórico: “A gente teve uma atitude irresponsável? E aí, eu falo de um modo geral, não só eu, mas como o próprio … (neste momento o som fica inaudível). A gente achou que não teria problema, a gente achou que poderia fazer sem nenhum problema”, confessa a secretária, que, em seguida diz que se sente culpada pelas pessoas que foram infectadas e nem pela jornalista que faleceu.

Me senti muito tempo culpada pela morte da Izinha. Só que eu acho que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, porque essa cepa aí todo mundo pegou. A gente já estava relaxado de um jeito que, se não pegasse aqui, iria pegar em outro lugar”, afirma.

No mesmo áudio, Cristiane Mota fala que, inicialmente, se sentiu culpada pela morte da jornalista e que, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), para onde foram convocados todos os assessores do Governo para ficarem à disposição da Secom para substituir os jornalistas doentes, houve nova infecção em massa.

Os assessores foram chamados para trabalhar no CICC por uma ordem da secretária executiva, conforme mensagens de WhatsApp de secretários de Estado e do gabinete do Governador.

No áudio, Cristiane diz que como todos os assessores foram infectados trabalhando e não fazendo festa, por essa razão, ela não se sentia culpada de todos adoecerem.

A gente ia pegar onde a gente se expusesse, porque ela é altamente contagiosa. Agora, as pessoas que não pegaram aqui pegaram trabalhando lá no CICC. Ninguém tava comendo ou se divertindo. Trabalhando. O que eu estou te dizendo é que essa culpa eu não carrego mais. Eu carreguei por várias semanas, por conta da Izinha, que eu me senti destruída e derrotada com a morte dela”, lamenta-se a promotora da festa.

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