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21 de abril de 2025 | 21:47

Morre o Papa Francisco, aos 88 anos; conheça sua trajetória

Morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, o Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013 e uma das figuras religiosas mais influentes do século XXI. A notícia foi confirmada pelo Vaticano.

“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz o comunicado.

A notícia foi confirmada pelo cardeal Kevin Farrell. Americano de origem irlandesa, Farrell será o administrador do Vaticano até a eleição de um novo papa.

Papa Francisco Receberá Alta do Hospital com Prescrição de Dois Meses de Repouso
Francisco foi hospitalizado no dia 14 de fevereiro com bronquite seguida de uma infecção polimicrobiana e permaneceu internado por 37 dias. Havia recebido alta no dia 23 de março. Sua saúde vinha piorando nas últimas semanas antes da internação. Além de dificuldades respiratórias crônicas – uma pleurisia fez com que ele perdesse parte de um pulmão na juventude – Francisco tinha problemas no joelho e no quadril. Isso fez com que ele tivesse de recorrer a uma cadeira de rodas desde 2022.

Sua última aparição pública foi no domingo (20), quando Francisco abençoou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a Missa de Páscoa — uma das várias aparições públicas da semana passada. Mas sua voz fraca e rouca era um lembrete de sua fragilidade, menos de um mês após receber alta de uma longa internação hospitalar por pneumonia com risco de morte.

Durante sua internação, Francisco vinha mantendo o ritmo intenso de trabalho que sempre o caracterizou. Mesmo doente, ele se encontrou com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, telefonou para a única diocese católica em Gaza, na Palestina, e despachou com assessores, trabalhando do hospital.

O primeiro papa latino-americano foi um defensor da inclusão. Sua primeira viagem pontifical ocorreu cerca de dois meses após sua eleição. Foi uma viagem à ilha italiana de Lampedusa, no extremo sul da Itália. Ele foi se encontrar com refugiados etíopes, eritreus e somalis, que haviam sido resgatados no Mar Mediterrâneo após inúmeros naufrágios de imigrantes ilegais que tentavam chegar à Europa. Francisco criticou, pela primeira vez, a “globalização da indiferença”. Queria que as novas fronteiras econômicas não abandonassem ninguém nas bordas do mundo.

Biografia

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, em uma família de imigrantes italianos do Piemonte. O pai, Mario Bergoglio, era contador em uma empresa ferroviária e a mãe, Regina Sivori, cuidava da casa e dos cinco filhos do casal.

Ele se diplomou como técnico químico, e depois escolheu o sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. Em 11 de março de 1958 entrou no noviciado da Companhia de Jesus, a ordem jesuíta. Estudando na Espanha, foi ordenado em 13 de dezembro de 1969 e emitiu a profissão perpétua nos jesuítas em 22 de abril de 1973.

Regressou à Argentina em julho de 1973 e permaneceu em seu país de origem até 1986. Foi provincial dos jesuítas da Argentina entre 1973 e 1979 e reitor do colégio de São José entre 1980 e 1986. Nesse ano mudou-se para a Alemanha para fazer seu doutorado.

Sua eleição ao papado teve vários fatos inéditos. Francisco foi o primeiro papa jesuíta. Foi o primeiro nascido no continente americano e no hemisfério Sul. E também foi o primeiro nascido fora da Europa a ser eleito em 1.272 anos. O último caso de um papa não europeu foi Gregório III (731-741), nascido na atual Síria.

Ditadura argentina

O período em que viveu na Argentina após sua ordenação é um dos mais controversos de sua biografia. A igreja argentina e o próprio Francisco, antes de sua eleição, foram acusados de “silêncio cúmplice” durante a “guerra suja” de assassinatos e sequestros conduzida pela junta militar que governou a Argentina de 1976 a 1983.

Em 2013, pouco antes da eleição de Francisco, três ex-militares foram condenados à prisão perpétua pelo assassinato de dois padres. O tribunal observou na sentença que a hierarquia da Igreja “fechou os olhos” para a morte de sacerdotes progressistas. Como líder da ordem jesuíta, Francisco fazia parte da hierarquia eclesiástica nesse período em que a Igreja Católica, de forma mais ampla, apoiava o governo militar e conclamava seus fiéis ao patriotismo.

O comportamento foi tão controverso que, em 2000, a Igreja pediu desculpas publicamente por não ter se oposto aos generais. “Queremos confessar diante de Deus tudo o que fizemos de errado”, declarou a Conferência Episcopal Argentina na época.

Francisco recusou-se duas vezes a testemunhar sobre seu papel como chefe da ordem jesuíta. Em 2010, quando finalmente compareceu diante de um juiz, advogados o acusaram de ser evasivo. A principal acusação contra ele envolveu o sequestro de dois padres jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, que foram capturados por oficiais da Marinha em maio de 1976 e mantidos em condições desumanas devido ao trabalho missionário que realizavam nas favelas do país.

Ele sempre considerou as acusações uma “calúnia” e sustentou que, pelo contrário, atuou nos bastidores para salvar a vida dos dois padres e de outros que ele escondeu secretamente dos esquadrões da morte. Em um caso, ele afirmou ter até mesmo dado seus documentos de identidade a um dissidente que se parecia com ele para que pudesse fugir do país. Ao fim, Francisco foi inocentado.

Sucessão

Em suas últimas semanas de vida, Francisco atuou para defender seu legado. Em 6 de fevereiro, antes de ser hospitalizado, ele prolongou o mandato do cardeal italiano Giovanni Battista Re como decano do Colégio dos Cardeais, cargo responsável por parte da organização do conclave – o encontro secreto que escolhe o novo papa.

A decisão evitou uma votação para a escolha de um novo decano e foi vista como uma forma de garantir que o processo ocorra de acordo com os interesses do falecido pontífice. Re, um veterano operador da Cúria Romana, tem 91 anos, idade avançada demais para participar do conclave. No entanto, sua influência será crucial nas discussões de bastidores que tradicionalmente antecedem a escolha do novo papa.

A decisão de Francisco em mantê-lo no cargo, em vez de nomear um candidato mais jovem, sugere que ele queria alguém confiável para preservar seu legado. Antes do conclave que o elegeu em 2013, o próprio Francisco se beneficiou do apoio de cardeais idosos que, mesmo sem votar, influenciaram significativamente o resultado. A manutenção de Re como decano significa que caberá a ele conduzir os funerais.

Francisco também tentou influenciar sua sucessão com a nomeação de 21 novos cardeais em outubro do ano passado. Uma das pessoas escolhidas foi o padre Timothy Radcliffe. Por várias vezes, Radcliffe desafiou publicamente os ensinamentos da Igreja sobre questões LGBTQ+ e trouxe esse tema à tona durante a primeira fase do histórico Sínodo de 2023. Com essas nomeações, Francisco terá escolhido 110 dos 140 cardeais com menos de 80 anos que podem votar em um conclave.

Mudanças na igreja

A eleição de Francisco foi considerada, a princípio, uma vitória da ala conservadora da igreja, que vinha dominando o debate desde a eleição de São João Paulo II, em 1979. No entanto, ele surpreendeu desde o começo. Uma das muitas tradições do papado é que, logo após sua eleição, o escolhido é anunciado na sacada centra da Basílica de São Pedro, na praça do mesmo nome e concede a bênção “Urbe et Orbi”, à cidade de Roma e ao mundo.

O eleito surgiu com roupas simples, brincou dizendo que “foram buscar um papa nascido no fim do mundo” e encerrou suas palavras antes da bênção com um pedido surpreendente: “orem por mim”.

O primeiro jesuíta eleito para a Santa Sé adotou, pela primeira vez, o nome papal de Francisco. Essa foi apenas uma de várias rupturas. Apesar de ter decepcionado quem esperava mudanças na postura da Igreja com relação ao aborto e ao divórcio, Francisco permitiu algumas inovações menos visíveis. Embora não tenha mudado a doutrina, ele foi revolucionário em muitos outros aspectos.

Ele mudou o estilo e as prioridades. Vestia-se com simplicidade e disse que cardeais e bispos não deveriam agir como príncipes, mas deveriam se aproximar do povo. “Os pastores devem ter o cheiro de suas ovelhas”, dizia ele. Liderança significa serviço, dizia. O clero deveria ser “gentil, paciente e misericordioso”, com uma “simplicidade exterior e austeridade de vida”.

Suas medidas ampliaram a influência dos leigos e das mulheres e abriram a Igreja ao diálogo. Desde que assumiu o papado, Francisco buscou tornar a Igreja mais inclusiva, abrindo espaços para mulheres e pessoas LGBT+ em posições importantes.

Em 15 de fevereiro, já no hospital, Francisco acelerou uma de suas reformas mais ousadas ao nomear a irmã Raffaella Petrini como a primeira mulher a ocupar o cargo de governadora da Cidade do Vaticano. Seu mandato estava agendado para começar em 1º de março.

Prioridades

As mudanças mais recenes provocaram forte resistência entre conservadores e foram consideradas insuficientes pelos mais progressistas. Porém, seus esforços para combater o abuso infantil pelo clero ficaram aquém do esperado.

Francisco também mudou as prioridades pastorais e defendeu uma Igreja “pobre para os pobres”, que servisse, acompanhasse e defendesse os necessitados. Ele descreveu a Igreja como um hospital de campanha para os feridos, e não um clube para os poderosos.

Ele continuou e aprofundou o trabalho de São João Paulo no diálogo inter-religioso, encontrando-se e emitindo declarações conjuntas com o principal líder xiita do Iraque e o principal líder sunita do Egito.

Em uma entrevista em seu primeiro ano como papa, ele disse que não se concentraria excessivamente no aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e controle de natalidade, pois todos já sabiam qual era a posição da Igreja sobre esses temas.

Em vez disso, ele atacou o capitalismo desregulado e a globalização. Criticou a guerra e clamou pela paz. Defendeu migrantes, refugiados e marginalizados. E abraçou o movimento ambientalista, pedindo que a Igreja e o mundo enfrentassem o aquecimento global.

Francisco havia sido internado em um momento político delicado entre a Santa Sé e o governo americano. No início de fevereiro o papa havia criticado publicamente a interpretação feita pelo vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, do conceito teológico Ordo Amoris (a ordem dos amores), desenvolvido por Santo Agostinho.

Esse conceito, que define que os cristãos devem colocar uma hierarquia em seus afetos, foi usado por Vance no início do mês para justificar a política imigratória do presidente Donald Trump, ao defender que os Estados Unidos têm um dever primordial com seus cidadãos e só depois deveriam se preocupar com imigrantes.

Francisco escreveu aos bispos dos EUA sobre a imigração em 10 de fevereiro e disse que “um autêntico Estado de Direito se verifica no tratamento digno a todas as pessoas, especialmente as mais pobres e marginalizadas”. Isso, segundo o papa, “não impede o desenvolvimento de uma política que regulamente a migração de forma ordenada e legal”. No entanto, “esse desenvolvimento não pode ocorrer por meio do privilégio de alguns e do sacrifício de outros”, afirmou Francisco. A resposta irritou a Casa Branca.

O impacto de Francisco no papado será duradouro. Como o Concílio Vaticano II conduzido por João XXIII em 1966, Francisco abriu portas na Igreja que serão difíceis de fechar.

 

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