Você não consegue falar de outro assunto que não sejam as eleições? O tema tem tirado seu sono e afetado suas emoções, dando origem a discussões acaloradas com amigos e familiares?
Você pode estar sofrendo da chamada ansiedade eleitoral.
Nas últimas semanas, a disputa travada entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pela presidência da República, e entre o governador Wilson Lima (UB) e o senador Eduardo Braga (MDB) pelo governo do Estado, tem ocupado o noticiário e as redes sociais.
A polarização e as fake news deixam o clima ainda mais tenso, e o quadro tende a piorar nesta última semana de campanha.
Valquíria Marques, professora de Psicologia no Rio de Janeiro, explica que a ansiedade de forma geral é um fenômeno psicológico natural para quase todas as pessoas. Seu tempo e durabilidade, porém, podem ser uma alerta para a saúde mental.
“Vale a pena observar que a ansiedade surge quando sentimos ou percebemos que estamos diante de desafios ou situações que nos geram incertezas futuras”, disse a professora.
“A ansiedade eleitoral pode estar presente na vida de todos nós pela instabilidade emocional que a escolha coletiva de nossos representantes políticos pode proporcionar, tendo em vista a proximidade ou a distância da melhora de fatores do nosso cotidiano, como segurança, condições econômicas, empregos, educação e saúde”, afirma.
Segundo a especialista, a ansiedade eleitoral está vinculada há diversos fatores, mas vale destacar a quantidade de informação a que os indivíduos hoje estão expostos.
“Qualquer pessoa ao ligar o rádio, a televisão ou acessar algum aplicativo de notícias receberá diversas informações que podem, inclusive, ser divergentes, o que proporciona desconforto emocional e cognitivo”, destaca Valquíria.
“Esse fenômeno foi observado em outros momentos de eleição, porém com uma intensidade menor do que agora”, acrescentou.
Identificar e colocar limites
Além de problemas relacionados ao sono, a ansiedade eleitoral pode afetar a organização da vida diária, a capacidade de planejamento, a execução do cotidiano e as condições dos relacionamentos interpessoais.
“Se qualquer uma dessas condições estiver ocasionando mal-estar, é hora de procurar ajuda ou mesmo iniciar um processo de gerenciamento de contato com as informações de forma mais saudável”, alerta a professora universitária.
De acordo com Francisco Gomes Júnior, advogado especialista em direito digital e presidente da ADDP (Associação de Defesa de Dados Pessoais e Consumidor), a chave está no limite.
“É preciso estabelecer um prazo diário para o consumo das notícias e selecionar bem os veículos, para que não se corra o risco de cair apenas em fontes que pregam discursos de ódio ou que disseminem fake news”, diz Júnior.
O advogado ressalta que cuidar da mente não significa se alienar da realidade, muito pelo contrário. “É o famoso ‘nem 8 nem 80′. A pessoa pode continuar bem informada, mas na medida do necessário, sem dar espaço a sentimentos que não façam bem.”
Nesse sentido, Júnior orienta que se busquem reportagens de órgãos que prezam pela seriedade.
“Você pode ter sua preferência pelo veículo A ou B, mas busque veículos já estabelecidos há um bom tempo, com uma certa tradição no jornalismo, feitos por jornalistas e que fazem a checagem da veracidade das notícias”, aconselha.