Por Fábio Costa*
A bacia do Mindu, principal bacia hidrográfica do São Raimundo drena parte das águas da cidade de Manaus para um dos maiores rios do mundo, o rio Negro. O córrego do Mindu, comumente chamado na região por igarapé em virtude de seu canal estreito, apresenta-se sob vasta ameaça de degradação de suas águas.
A grande poluição e contaminação das águas são caracterizadas pelo descarte de resíduos domésticos e industriais, assoreamento de seu leito e lançamento de resíduos sólidos sobre o leito do igarapé.
Com o intuito de avaliar as características físico-químicas da qualidade das águas da microbacia do Mindu foram analisados os seguintes parâmetros: pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, turbidez, temperatura, e sólidos dissolvidos totais realizados com auxílio de uma sonda multiparamétrica em 11 pontos de amostragem do canal principal do igarapé do Mindu.
As análises de sulfetos, nitrogênio amoniacal, e fosfato total foram realizadas em laboratório. Os resultados evidenciaram que o córrego apresenta pH levemente ácido no ponto próximo as nascentes e sensivelmente alcalino nos demais trechos, teor de oxigênio dissolvido abaixo do estipulado para a legislação, caracterização de sólidos dissolvidos e suspensos que contribuem para altas concentrações de condutividade elétrica, turbidez, e sólidos dissolvidos totais.
Os trechos analisados apresentaram-se ainda sob influência de aporte de efluentes domésticos e industriais com a caracterização de sulfetos, fósforo sob a forma de fosfatos e de nitrogênio na forma de nitrogênio amoniacal dissolvido nas águas.
A poluição dos Igarapés
Algumas nascentes estão protegidas, mas não tem um igarapé que corta a cidade de Manaus que não esteja contaminado. Mas a situação pode ser revertida, com investimento em saneamento básico e educação ambiental. Quem afirma é o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Sergio Bringel, um dos palestrantes do simpósio “Igarapés de Manaus e Saneamento: Cenários e Perspectivas”, realizado ontem pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) em 2017.
Para ele, fazer o tratamento adequado do esgoto, revitalizar – da nascente para a foz – e proteger os igarapés seria a solução para mudar o cenário dos nossos igarapés. “Saneamento não é gasto. É investimento. Se US$ 1 que você investe em saneamento, economiza US$ 7 na saúde, é viável ou não é? Outra coisa, todo esgoto pode ser reaproveitado.
Pode fazer adubo e o líquido usar na irrigação. O Amazonas não tem fertilizante, mas a gente está jogando fora toneladas e gastando em saúde o que não era para ser gasto”, disse Bringel.
O Igarapé do Mindu já foi o maior balneário da cidade de Manaus
Popularmente conhecida por ser uma cidade quente, Manaus (AM) possui alternativas para a população que deseja se refrescar nos fins de semana, como flutuantes e balneários. Em meados da década de 30, o então prefeito, Antônio Botelho Maia, que foi prefeito entre 1937 e 1940, inaugurou o Balneário do Parque 10.
A água vinha do Igarapé do Mindu, que possuía águas límpidas. Além do balneário em si, o espaço tinha um zoológico aos arredores, com animais como araras e onças. O local foi o espaço de lazer de muitas famílias por décadas, até que começou a apresentar problemas e passou a decair em meados da década de 70.
Fábio Costa é jornalista e editor chefe do portal Zero Hora Amazonas