15 de agosto de 2025 | 01:14

Milton Hatoum, um dos maiores autores do país, é eleito para a cadeira 6 da ABL

Até pouco, Milton Hatoum não planejava entrar na Academia Brasileira de Letras. Tímido e pouco afeito a rituais e cerimônias, o manauara achava que não tinha perfil para ocupar uma cadeira na instituição. Uma conversa com a acadêmica Ana Maria Machado, assim como o incentivo de diversos amigos nos últimos dois anos, fizeram Hatoum, um dos mais consagrados e premiados escritores contemporâneos, mudar de ideia sobre a imortalidade.

O escritor aceitou o convite para se candidatar e, na tarde desta quinta-feira (14), foi eleito com 33 votos para a cadeira 6 da ABL. Em menos de meia hora, foi escolhido pelos acadêmicos para suceder o jornalista Cícero Sandroni, morto em junho. Outro candidato à vaga, o poeta e editor pernambucano Antônio Campos, recebeu um voto.

Pouco antes da confirmação do pleito, Hatoum ainda se dizia “incrédulo” com sua candidatura:

— A minha timidez atávica, talvez herança de amazonense, me distancia um pouco dos rituais — disse o escritor, em uma sala do escritório da editora Companhia das Letras, que publica as suas obras, no centro do Rio. — Meu ritual é a escrita, que exerço todos os dias.

O que motivou, então, o autor de “Dois irmãos” a buscar uma vaga na Casa de Machado de Assis?

— A Academia me interessa como uma instituição de memória, de proteção à literatura brasileira e de abertura ao público — explicou ele. — Como dizia Bandeira, a memória só faz sentido quando vibra no tempo presente. Discussões sobre o que acontece hoje no Brasil cabem muito bem na pauta da Academia. Estamos sempre na iminência de retrocessos perigosos, de um tempo obscuro. É fundamental proteger as instituições brasileiras, porque há ameaças no ar. E a Academia tem um corpo de intelectuais capaz de responder a isso com um discurso elevado, digno e contundente.

Outro incentivo foi a democratização da ABL, que vem abrindo suas portas para o público em eventos e conferências, assim como o esforço da instituição em tornar o quadro de membros efetivos mais representativo, com mais mulheres, negros e indígenas.

— A Academia não é uma instituição cristalizada, voltada para si mesma — disse Hatoum. — Ela está aberta ao público, e acho fundamental criar relações estreitas e profundas com a sociedade, não apenas carioca, mas brasileira. É importante levar a Academia para outros lugares.

A eleição coincidiu com o do anúncio de seu novo romance, “Dança dos enganos”. O volume final da sua trilogia “O lugar mais sombrio” será lançado pela Companhia das Letras no dia 21 de outubro.

‘Brasil que vem da Amazônia’

Romancista, contista, ensaísta, tradutor e professor universitário, Hatoum lançou oito títulos, que venderam juntos meio milhão de livros e ganharam publicação em 17 países. Nascido em Manaus, em 1952, ele estreou na ficção em 1989, com “Relato de um certo Oriente”, vencedor do prêmio Jabuti de melhor romance.

Na sequência, publicou “Dois irmãos” (2000), um grande sucesso editorial que virou série da TV GLOBO em 2017. Com “Cinzas do Norte” (2005), Hatoum venceu novamente o Jabuti (dessa vez com o Livro do Ano), além dos prêmios Bravo!, APCA e Portugal Telecom. O Amazonas é cenário da maior parte de sua obra, servindo como pano de fundo para narrativas que exploram memória, família, política e identidades em conflito.

— Hatoum é o maior escritor brasileiro vivo e é um romancista de primeira ordem — disse o presidente da ABL, Merval Pereira. — Ele será muito útil para a gente. Já colaborava com publicações da ABL, como a Revista Brasileira, agora vai ter a oportunidade de colaborar mais ainda.

Para a recém-eleita acadêmica Míriam Leitão, que participou de sua primeira eleição, Hatoum chega trazendo “todos os ecos do Brasil”.

— É Brasil que vem da Amazônia — disse ela. — A literatura dele é riquíssima, belíssima.

O Acadêmico Ruy Castro também comemorou a eleição de Hatoum:

— Ele é um grande representante de uma geração de ficcionistas — disse o jornalista e biógrafo. — A Academia sempre teve gente de diversas origens, de todos os lugares, como João do Rio, Pedro Lessa. É uma geração mais jovem que está chegando e tem uma grande contribuição a dar.

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