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24 de abril de 2024 | 15:41

Entenda a origem do conflito entre Rússia e Ucrânia

Nos últimos dias, a tensão entre Rússia, Ucrânia e os países da Otan tem chamado atenção de todo o mundo. O reconhecimento da independência das regiões separatistas, Donetsk e Luhansk, o envio de tropas para as fronteiras e a autorização do Congresso russo para uso de tropas militares no exterior aumentou ainda mais os rumores sobre uma guerra. Diante desses acontecimentos, os Estados Unidos e seus aliados da Otan começaram a impor sanções para tentar parar os atos de Vladimir Putin e fazer prevalecer a diplomacia.

A principal razão por trás desse conflito é o desejo da Ucrânia em fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar internacional fundada em 1949 e que conta com 30 países-membros, entre eles: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Turquia. Contudo, os motivos vão além, conforme fala o cientista político Leandro Consentino: “O que está em jogo é uma questão cultural e geopolítica, pelo fato da Rússia não querer um vizinho convertido ao ocidente, um vizinho inscrito na Otan e com laços com a União Europeia. A Rússia tenta preservar sua influência sobre uma área que já foi a cabeça da União Soviética. Para Putin, a Ucrânia ainda pertence ao império russo. O conflito tem a ver com laços culturais, mas, sobretudo, com laços políticos”.

A origem do conflito entre as duas nações

Com o colapso da União Soviética em 1991, países que antes faziam parte da URSS passaram a se associar à Otan, como: Lituânia, Letônia e Estônia. A Ucrânia também manifesta interesse em fazer parte da organização. Só que, pelo fato de fazer divisa com a Rússia e ser um antigo pedaço russo, Putin não a considera como Estado soberano, mas sim uma parte de seu país. Por isso, o presidente russo quer voltar a ter influência sobre a região e redesenhar as fronteiras geopolíticas da era Soviética. Esse é um dos motivos pelos quais ele não quer que a participação ucraniana na Otan aconteça, pois alega que essa ação prejudicaria seu país e seria uma ameaça existencial à Rússia, já que fala que o lugar onde a Ucrânia se encontra hoje possui armas nucleares, assim como a região da Polônia, onde se localizam as bases de mísseis da Otan.

Desde sua fundação, em 1991, a Ucrânia ficou dividida. “Um lado poderia se aproximar da União Europeia e o outro manter os laços com a Rússia, mas parte da elite do país acreditou ser melhor e mais benéfico estar junto com os países do ocidente”, explica o cientista político. Mas a Rússia não está disposta a ceder uma terra que já lhe pertenceu, e por isso ela tenta recuperar seu domínio sobre esses territórios. “O primeiro início de invasão aconteceu em 2014, na Crimeia, e culminou na anexação de províncias separatistas. Agora, estamos vendo um segundo lance de preservar a Ucrânia do seu lado. Naquele momento, apoiadores pró-Rússia foram retirados do poder”, contextualiza Consentino em relação às duas tentativas russas de ter novamente poder sobre as terras ucranianas.

Neste segundo ataque russo em oito anos, é possível ver o ocidente com uma ofensiva muito maior. “Eles não estão tolerando essa tentativa da Rússia de se impor sobre a soberania da Ucrânia”, diz o cientista político. Na terça-feira, 22, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e representantes da Alemanha, Reino Unido e França adotaram sanções contra os atos de Putin. Nesse primeiro momento, Biden anunciou que autorizou o envio de tropas norte-americanas para a Letônia e Lituânia, e que a partir de quarta-feira, 23, o banco militar russo e o VTB estariam bloqueados, além do fato de que a Rússia não pode mais conseguir dinheiro no ocidente.

Diante desse cenário, Consentino não acredita que haja uma solução fácil para o conflito, visto que nenhum dos dois lados quer abrir mão de suas exigências. Para ele, a melhor maneira seria escolher a diplomacia e ouvir qual o desejo da Ucrânia, pois “se somos pautados pela carta da ONU, que diz que cada país decide seus próprios termos, é preciso ouvir o desejo dos ucranianos”. Questionado sobre acreditar em uma possível invasão, o pensamento do especialista é igual ao de Joe Biden e do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. “Se entender invasão como ataques pontuais, me parece que já aconteceu. Se olharmos nesse momento e em momentos anteriores, vamos ver que já aconteceu e ainda está acontecendo. Uma invasão completa acho mais improvável, porque é um custo muito alto, tanto do ponto de vista efetivo e de recursos, como de reputação. Agora, pequenos avanços sobre a soberania da Ucrânia, vamos continuar tendo”, finaliza.

Posicionamento do Brasil

Desde a visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, que aconteceu na quarta-feira, 16, em meio a uma possível guerra, muito se tem falado sobre o posicionamento do Brasil em relação ao conflito no leste europeu. Para Consentino, a ida de Bolsonaro para um país que está invadindo o outro deixa o Brasil mal visto lá fora, porque “estamos nos metendo em uma situação que não temos recursos o suficiente para mudar o curso das ações e para poder nos aliar a qualquer um dos lados”. “Com a sua ida, ele se coloca em um conflito que não tem condições e recursos para se envolver. Ele desgasta nossa visão de uma forma que não precisava, pois não podemos fazer aliança com a Rússia, e também carecemos da confiança do ocidente para dizer que não estávamos fazendo uma aliança.”

A ida de Bolsonaro para a Rússia chamou a atenção dos representantes internacionais. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que o Brasil “parece estar do lado oposto à maioria da comunidade global” em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Desde essa declaração, o Ministério das Relações Exteriores começou a falar mais sobre o assunto. Em nota divulgada na terça-feira, 22, eles sugeriram uma “solução negociada” para a crise entre Rússia e Ucrânia. O Itamaraty se posicionou em defesa dos “legítimos interesses de segurança” dos países. “Diante da situação criada em torno do status das autoproclamadas entidades estatais do Donetsk e do Luhansk, o Brasil reafirma a necessidade de buscar uma solução negociada, com base nos Acordos de Minsk, e que leve em consideração os legítimos interesses de segurança da Rússia e da Ucrânia e a necessidade de respeitar os princípios da Carta das Nações Unidas”, diz nota.

Escalada de tensões

O conflito entre Rússia e Ucrânia ficou ainda mais tenso nesta semana após Vladimir Putin reconhecer a independência de Donetsk e Luhansk, duas regiões da Ucrânia, ter a aprovação do Congresso russo para uso de forças militares no exterior, e ter enviado tropas para as fronteiras, sinalizando uma possível invasão completa. Mas, apesar das decisões, Putin havia dito que não iria invadir o país vizinho e que estava aberto ao diálogo. Porém, também afirmou que não abre mão de suas exigências, sendo uma delas que a Ucrânia nunca ingresse na Otan. Ao reconhecer a independência de duas regiões separatistas que não fazem parte da Rússia, Putin cometeu uma “flagrante violação de direito internacional”, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Por causa das ações de Putin, líderes de países-membros da Otan e os Estados Unidos passaram a impor sanções como forma de tentar impedir os avanços russos. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou sanções aos bancos russos e afirmou que, mesmo na atual situação, não irá desistir de buscar uma solução por vias diplomáticas “até o fim”. “O Reino Unido está sancionando os seguintes bancos: Rossiya, IS Bank, General Bank, Promsvyazbank e o Black Sea Bank, assim como três indivíduos”, afirmou Johnson. O chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou a interrupção do início da operação do gasoduto Nord Stream 2, que transportaria gás da Rússia até a Alemanha. Representantes franceses anunciaram mais de 27 sanções contra instituições e indivíduos russos que estariam minando a integridade ucraniana, ou seja, poderiam financiar a postura russa.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou o envio de tropas americanas para a Letônia e Lituânia e o bloqueio do banco militar russo e VTB, além de impor sanções sobre a dívida russa, que não pode mais conseguir dinheiro no ocidente. O primeiro-ministro do Japão anunciou a suspensão de vistos e o congelamento de fundos dos territórios separatistas ucranianos, que passarão a estar sujeitos a um embargo comercial. Além disso, o governo irá bloquear novas emissões de dívida soberana russa nos mercados japoneses. Com o anúncio das sanções, principalmente as dos EUA, a Rússia prometeu uma resposta “forte e dolorosa”. Em declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que não deve haver dúvidas sobre sua posição diante da questão: “Haverá uma resposta forte a essas sanções, não necessariamente simétricas, mas bem calculadas e dolorosas para os Estados Unidos”.

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